Imagem: Disney Parks Blog
Pela primeira vez em 15 anos, a Disney anuncia um novo parque temático — e dessa vez, em Abu Dhabi.
O novo resort marcará oficialmente a estreia da marca no Oriente Médio e será o sétimo complexo global da companhia.
O anúncio foi feito ontem, logo após a divulgação dos resultados financeiros do segundo trimestre, que vieram fortes e reforçaram a importância dos parques para a saúde financeira da empresa.
Em 2024, os parques representaram 59% de toda a receita operacional da Disney — uma participação impressionante, especialmente em um cenário em que a disputa no streaming segue acirrada.
Enquanto os parques nos Estados Unidos tiveram uma leve queda de público no ano passado, os números mais recentes já mostram recuperação: a Disney relatou alta na frequência e um salto na receita no primeiro trimestre de 2025.
O foco internacional também se mantém: os complexos fora dos EUA continuam atraindo mais visitantes e gerando maior gasto por hóspede. Porém, a China tem sido um desafio. As tensões comerciais afetaram os resultados, e a Disney viu queda na frequência dos parques de Xangai e Hong Kong, além de uma retração nas vendas internacionais no início do ano.
A expansão para Abu Dhabi surge, portanto, como um movimento estratégico para abrir novas frentes de crescimento, diversificando riscos e apostando em regiões com alta demanda por entretenimento premium.
Atualmente a Disney possui 12 parques temáticos distribuídos em 6 complexos ao redor do mundo. Cada complexo pode conter um ou mais parques temáticos.
Aqui está a lista atualizada:
Disneyland Resort (Anaheim, Califórnia, EUA)
Walt Disney World Resort (Orlando, Flórida, EUA)
Tokyo Disney Resort (Japão)
Disneyland Paris (França)
Hong Kong Disneyland Resort (Hong Kong)
Shanghai Disney Resort
Com a recente notícia de que a Disney planeja abrir um novo parque temático em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, ainda sem data confirmada, esse será o sétimo complexo da empresa e o 13º parque temático.
Ao anunciar o novo parque, Bob Iger usou uma expressão já conhecida: “autenticamente Disney e distintamente Emiradense” — uma estratégia que a empresa já aplicou com sucesso no Shanghai Disney Resort, cujo lema é “Autenticamente Disney e Distintamente Chinês”. Em Xangai, isso se traduziu em uma integração elegante entre a magia clássica da marca e elementos culturais locais: o Enchanted Storybook Castle traz símbolos chineses como a peônia no topo, enquanto o Garden of the Twelve Friends adapta o zodíaco chinês com personagens Disney.
Agora, em Abu Dhabi, espera-se a mesma abordagem: um parque que respeita e celebra a cultura local, com experiências que unem o encantamento Disney às tradições, à arquitetura e às paisagens da região — criando algo verdadeiramente único e relevante para o público do Oriente Médio.
O novo parque será desenvolvido em parceria com a empresa local Miral e ficará localizado na Ilha Yas, um polo de entretenimento que já abriga atrações como Ferrari World, Warner Bros. World e SeaWorld Abu Dhabi. A Miral será responsável por todo o financiamento e execução do projeto, enquanto a Disney contribuirá com o design criativo e a supervisão operacional e da experiência oferecida. Sem investir capital diretamente, a Disney receberá royalties com base na receita gerada pelo parque.
Essa colaboração reflete a estratégia da Disney de alcançar novos públicos e mercados emergentes, aproveitando a localização estratégica da cidade.
Tanto os aeroportos de Abu Dhabi quanto os de Dubai têm planos ambiciosos: a visão conjunta é se consolidarem como hubs globais, conectando até um terço da população mundial em voos de até quatro horas.
Isso inclui os 1,4 bilhão de habitantes da Índia, que estariam muito mais próximos de Abu Dhabi do que dos parques da Disney em Xangai ou Hong Kong — o que reforça o potencial de alcance regional do novo resort.
Em termos estratégicos, a localização geográfica dos Emirados Árabes não é apenas simbólica — é logística, econômica e populacionalmente inteligente.
A Miral informou que a Ilha Yas registrou mais de 38 milhões de visitas em 2024, um aumento de 10% em relação ao ano anterior.
O que esse número revela na prática:
A Disney está entrando em um ecossistema já aquecido, com alto fluxo de visitantes e infraestrutura pronta. Isso reduz barreiras de entrada e amplia o potencial de retorno — um fator estratégico que provavelmente influenciou a decisão de escolher Abu Dhabi como próximo destino da marca.
Josh D’Amaro, presidente da divisão Disney Experiences, reforçou o peso estratégico da localização: segundo ele, há um potencial de 500 milhões de pessoas na região com capacidade financeira para visitar um parque Disney.
Esse acesso facilitado, somado ao perfil de desenvolvimento orientado para o futuro dos Emirados Árabes Unidos, foi decisivo para a escolha de Abu Dhabi como sede do novo resort.
Em outras palavras, a decisão não foi apenas simbólica ou política — foi baseada em dados demográficos e projeções de consumo real, com foco em expansão sustentável e novos públicos.
Imagem: Disney Parks Blog
O novo parque da Disney em Abu Dhabi segue um modelo estratégico que a empresa já vem utilizando com sucesso na Ásia: parcerias locais para viabilizar projetos de grande escala, mantendo o controle criativo da marca e adaptando a experiência à cultura regional.
Essa abordagem se repete em três importantes operações:
Em todos esses casos, a Disney adota uma fórmula: preservar a integridade criativa e a qualidade da experiência Disney, enquanto divide os riscos e adapta a operação às especificidades culturais, econômicas e políticas de cada região.
Agora, com o projeto de Abu Dhabi sendo 100% financiado e operado pela empresa local Miral, a Disney reforça essa mesma estratégia — oferecendo a magia que o mundo conhece, mas com o toque e o respeito que cada cultura merece.
Enquanto os anúncios oficiais celebram o novo parque como um avanço estratégico e cultural, há um debate que começa a emergir: como a Disney vai aplicar sua “chave de inclusão” em um território cujas leis e normas sociais são tão diferentes?
A “Chave da Inclusão”, adicionada oficialmente à filosofia Disney em 2021, representa o compromisso da marca com diversidade, equidade e acessibilidade para todos os públicos — algo que se reflete tanto na comunicação quanto nas operações dos parques. Mas em Abu Dhabi, onde há limitações legais relacionadas a gênero, orientação sexual e liberdade de expressão, surgem questionamentos.
Ainda que a Disney tenha reforçado que o parque será “distintamente Emiradense”, parte do público e da mídia internacional já aponta o risco de concessões em nome da expansão, e cobra mais clareza sobre como a marca equilibrará seus valores com a realidade sociocultural do país.
Nas redes sociais, principalmente internacionais, muitos fãs da marca demonstraram a sua insatisfação quanto a escolha do país do novo parque.
Esse contraste entre discurso e prática internacional pode representar um risco de imagem para a Disney se não houver transparência e clareza sobre como seus princípios serão respeitados e aplicados no novo parque.
Imagem: Robert Niles, Theme Park Insider
O timing do anúncio também levanta outra pergunta estratégica: seria essa a resposta da Disney às ousadas movimentações da Universal?
Nos últimos anos, a Universal vem acelerando sua expansão com projetos como:
A Disney não anunciava um novo parque temático ou resort desde 2010, quando revelou os planos para o Shanghai Disneyland. Desde então, o foco esteve em expansões de parques existentes, cruzeiros e novas áreas temáticas — mas não em um complexo totalmente novo.
A escolha de Abu Dhabi como sede do sétimo resort global da marca chega em um momento estratégico: apenas um mês depois da Universal anunciar seu mais novo resort no Reino Unido — e poucas semanas antes da inauguração do Epic Universe, em Orlando, o maior lançamento da Universal em 26 anos.
Coincidência? Pouco provável.
Esse anúncio da Disney parece cuidadosamente posicionado para marcar presença no tabuleiro global em um momento em que a Universal está claramente acelerando seus movimentos.
A empresa vinha sendo cobrada por uma resposta de mesmo peso. E agora, ao anunciar um resort inteiramente novo em um território inédito, entrega um movimento forte — embora em um formato diferente: parceria estratégica em mercado emergente, com longo prazo e menor risco de capital direto.
Pode até não ser um contra-ataque direto, mas está claro que é um movimento calculado para manter sua presença global relevante, crescer em novos mercados e mostrar que o storytelling Disney pode atravessar fronteiras.
E você, o que achou dessa notícia da Disney?
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Por Juliana Oliveira
Juliana Oliveira é Vice-Presidente do Seeds of Dreams Institute, com sede em Orlando, onde lidera iniciativas de treinamento corporativo com foco em excelência em atendimento, Guestologia, Clientologia e Psicologia Positiva. Com mais de 14 anos de experiência internacional em Customer Experience, atuou em empresas globais atendendo clientes na Europa, Ásia, América e Oriente Médio. Estuda profundamente há anos a filosofia Disney de encantamento ao cliente e conhece todos os parques da Disney e da Universal ao redor do mundo, integrando as melhores práticas dessas marcas aos seus programas e imersões em destinos estratégicos para aprendizado prático com grandes marcas. É coautora do livro “Ubbe Iwwerks, o Gênio por trás de Mickey Mouse” e produtora executiva do documentário “O Contador de Histórias”, sobre Walt Disney.
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