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Cachorrologia: o segredo da alma canina

Alguns que me conhecem jamais imaginariam que aqui estou escrevendo sobre minha recente paixão pela cachorrologia. Aliás, este é o meu segundo artigo sobre o Lucky.

Este neologismo pode ser definido como o estudo, a ciência que define a alma canina. Lógico que este nome é devido ao fato de já usar, há anos, na minha empresa, termos corporativos como disneylogia, varejologia, turismologia, teenlogia, clientologia etc como nos nossos livros e programas que você pode conferir AQUI.

Você deve estar se perguntando: Claudemir, o que cachorrologia tem a ver com negócios? Talvez muito mais do que você imagina. Mas confesso que, no fundo, no fundo, cachorrologia tem muito a ver com nosso lado humano e, talvez, tenha feito a maior descoberta nos meus 50 anos de vida em relação à alma canina e humana, mas deixo isto para o último parágrafo. Sim, não perca o “gran finale“.

Descobri a paixão pelos cachorros graças a minha adorável esposa, Deborah, que por anos queria adotar um cachorrinho e eu sempre fui contra devido às viagens, e também porque não sabia o que estava perdendo. Aconteceu há alguns anos e, desde então, me apaixonei completamente por ele.

Este pequeno artigo é apenas para falar de algumas descobertas convivendo com o Lucky.

Neste artigo, especificamente, quero contar o que acho o maior segredo da alma canina e porque nos apaixonamos por eles e principalmente porque eles nos amam tanto.

Depois do Lucky, meu amor por outros animais cresceu de forma significativa. Depois do Lucky, passei a falar mais com vários vizinhos durante nossas caminhadas. Depois do Lucky, até meu colesterol baixou…

Era notória a tristeza dele quando observa que estávamos nos vestindo para ir ao trabalho ou sair para uma festa.

Durante minhas viagens, sempre percebi sua tristeza imensa ao ver as malas. Desde aquela olhada dizendo: “você vai mesmo me deixar?” até suas patinhas tentando subir em nosso colo com a ideia de que vamos levá-lo junto para passear ou viajar.

Até aí, nenhuma novidade, pois toda pessoa que tem cachorro sabe disso, mas aqui quero explicar o que sempre me fascinou no Lucky e nos caninos. Eis aqui minha maior descoberta.

Cheguei à conclusão de que os cachorros têm certeza de que quando saímos de perto deles nunca mais voltaremos. E talvez aí possamos explicar por que eles grudam na gente. Eu consigo entrar nos olhos do Lucky e sentir exatamente isto. Ali, já na garagem, sempre que olhava de volta para ele conseguia ter esta sensação ao ver seus olhos, a ver sua expressão de quase desespero. Por mais que fale que volto já, ele “sabe” que nunca mais voltarei.

Tenho vários argumentos para defender minha tese. Afinal, para que fiz mestrado e doutorado?

Vamos a alguns deles. O Lucky sempre nos esperava nesta janela, exatamente como está na foto. Se esta imagem não o convencer, tenho outros argumentos. 

Descobri que, com o tempo, ele passou a conhecer a palavra “tá bom, tchau, bye” e além do mais era fofoqueirinho, pois ficava bisbilhotando todas as minhas ligações.

Quando estav próximo de terminar um telefonema, ele percebia pelo tom de voz e ao ouvir o famoso “tchau ou bye“; em milésimos de segundos, lá estava ele na minha frente me olhando e perguntando: “você não precisa sair um pouco desse ambiente? Está trabalhando muito, vamos passear?” Óbvio que aceitava o convite e saímos para uma caminhada.

Sim, o Lucky trabalhava comigo, não me largava por nada, a não ser, claro, quando Deborah aparecia. Era, decididamente, meu grude favorito. Só não era chiclete porque não podia mastigá-lo por muito tempo. Se pudesse, “mastigá-lo-ia” todinho, cada pedacinho dele. 

O que falar, então, de sua nobreza ao admitir erros? Aquela cabeça baixa e seus olhos implorando perdão por ter mastigado aquele pequeno pedaço de papel. Ah, Lucky, a sociedade nos transformou em camaleão. E outra grande lição: erram, admitem e seguem em frente. Não guardam ressentimentos. Não lembram do que passou.

Já poderia ter um escritório, mas não tenho a menor intenção de sair do meu “home office” e, no dia que mudar para um espaço maior, colaboradores que tiverem cachorro ou animais também terão algumas regalias que não posso ainda adiantar ou comunicar.

Meus negócios melhoraram desde a chegada do Lucky; portanto, cachorrologia tem a ver com clientologia, com negócios.

Depois de Lucky, meu “cachê” também aumentou porque só pego um avião quando vale a pena. Antes de fechar acordos, sempre dou uma última olhadinha nos olhos de Lucky e ele define minha decisão. É meu CEO favorito. Não viajo mais apenas por viajar, pois sempre lembro que na cabeça do Lucky, nunca mais voltarei.

Ainda sobre negócios e a arte de atendimento ao cliente. Ah, se os colaboradores das empresas tratassem seus clientes como um cachorro trata a gente! Ah, se eles tivessem a mesma vontade do Lucky de servir!!! Ah, se eles pudessem ficar na porta esperando para pular de alegria ao ver o cliente entrar pela loja, por exemplo! Preciso falar algo a mais?

Voltemos aos argumentos de que os cachorros sabem que nunca mais voltaremos, mesmo quando saímos por minutos ou horas. Como justificar tamanha festa quando regressamos? Qualquer pessoa de bom senso me dará razão que realmente aquela festa só pode ser feita por “alguém” que sabia que nunca mais voltaríamos.

Como justificar que esta festa é TODA VEZ que você volta? Não há outra explicação. Na cabecinha deles, ao sair, eles sabem que não voltaremos mais. Talvez, por isso, se explique o apego deles com novas visitas em sua casa. O Lucky quer encantar a todos que chegam em casa. Sabe o motivo? Ele sabe que é um ótimo plano B no caso de a Deborah e eu sairmos de casa. É por isso que eles priorizam: primeiro seus donos, depois quem for chegando perto…

Se isto não o convencer do meu raciocínio, deixo a mensagem principal deste artigo que é a lição que Lucky e todos os cachorros nos dão todos os dias.

Aplique a filosofia canina e da cachorrologia em sua vida pessoal.

Todas as vezes que alguém que você ama sai do seu lado, imagine que ela nunca mais voltará e faça uma festa todas as vezes que ela voltar. Fique na janela. Fique na porta assim que ele ou ela chegar ou sair. Abane seus braçinhos como se fossem dois rabinhos caninos. “Morda” esta pessoa amada tão suavemente quanto o Lucky me mordia. Seja um grude com o sabor do melhor chiclete. Que sua emoção seja tanta que você possa até morder um brinquedo como fazia o Lucky, tentando segurar tanta emoção. Ele transbordava felicidade, era incapaz de segurar tudo. Às vezes, pensava que meu Lucky ia ter um ataque cardíaco; pois bem, que te falte um pouco de fôlego de tanta alegria em rever quem você sabia que não voltaria. Fique na janela esperando quem você tanto ama, olhando aqueles carros que passam e imaginando ser o carro da pessoa amada.

Poderia ficar aqui escrevendo páginas e páginas, mas acredito que a mensagem é clara.

No fundo, no fundo, a cachorrologia pode nos ensinar a ser bem mais humanos. No fundo no fundo, a cachorrologia pode nos dar algumas lições de vida.

Você que está lendo isto, neste momento, provavelmente, tem alguém que você ama e está bem próximo de chegar aí do seu lado. Pois bem, imagine que ele ou ela não voltaria e faça a maior festa do mundo para este renascimento. No fundo, no fundo, o Lucky sempre foi sábio. Sempre que saímos, no fundo, no fundo, temos a probabilidade de nunca mais voltar.

No fundo, no fundo, nós, humanos, nas relações, estamos alguns degraus atrás dos cachorros. Deixe-me explicar.

No primeiro degrau, estão as pessoas que têm como certo que as pessoas amadas saem e voltam, ou seja, que são “imortais”, que elas sempre voltarão. Portanto, para que fazer festa? Elas voltarão mesmo, né?

No segundo degrau, temos aqueles que cogitam haver a possibilidade de que podemos não voltar. Estes fazem algumas festas. No último degrau, no topo, estão aqueles que têm como certo que não voltaremos e, por isto, festejam todo renascimento, toda volta.

O Lucky está neste último nível e, por isto, entende de “carpe diem” mais do que qualquer humano.

Quem vive mais intensamente? Os cachorros ou os humanos? Será que, por viverem, “poucos” anos, acabam tendo consciência de sua “mortalidade” e acabam vivendo mais do que nós mesmos? Você trocaria a quantidade de seus “longos” 70, 80, 90 anos de vida pela qualidade e intensidade da “curta” vida canina?

P.S. Lucky é tão especial e mudou tanto minha relação com animais que sonho, inclusive, em não comer carne animal um dia. Reconheço que ainda não evoluí o suficiente, mas só essa conscientização coloca Lucky no topo de minha admiração, respeito e amor por ele.

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