Em meu livro, “De Garagens a Impérios”, a ser publicado oportunamente, estudei por mais de uma década empresas (algumas centenárias) que se tornaram impérios, mas que começaram numa garagem, num quarto de uma universidade ou mesmo numa cozinha. Entre as empresas presentes no livro, cito apenas algumas: Apple, Nordstrom, Harley Davidson, HP. Fui inspirado, naturalmente, pelos meus 15 anos trabalhando para a Disney e por saber, claro, que ele começou numa garagem na casa do tio dele, Bob, com apenas USD 500,00 emprestados (foto da garagem onde Walt Disney e Roy Disney começaram o grande sonho, em 16 de outubro de 1923).
Essas histórias variam muito na forma. Alguns tinham uma ideia disruptiva (“invenção”), algo totalmente novo no mercado. Outros simplesmente melhoravam os produtos já existentes e agregavam algo à inovação disruptiva propriamente dita. Isto me lembra muito a diferença entre invenção e inovação. Ninguém precisa ser inventor para sobreviver nesta vida. Uma das definições de inovação é pegar algo já existente e melhorar. Não se trata de copiar. É muito mais profundo do que parece. A grande maioria dos gênios foram inovadores, não necessariamente inventores.
Picasso dizia que “bons artistas copiam; grandes artistas roubam”. Sim, é muito forte, mas outro gênio ameniza esta agressividade. Isaac Newton dizia: “se consegui ver mais longe foi porque estava nos ombros de gigantes”. Neste caso, estamos falando de Galileu Galilei e Johannes Kepler. Steve Jobs afirmou no documentário da PBS chamado “Triumph of the Nerds”, em 1996: “Nós nunca tivemos vergonha em roubar ótimas ideias.”
Na opinião de Jobs, Picasso e Newton, não faz sentido empreendedores começarem do zero, ou reinventarem a roda. Precisamos partir de ideias já existentes para irmos além daquilo que já foi visto até então, afinal já diz a sabedoria milenar que “não há nada de novo sob o sol”.
Os campos de atuação são os mais variados possíveis. Alguns tinham uma ideia clara do que fariam. Outros queriam fazer qualquer coisa que ajudasse a sociedade. Alguns foram líderes carismáticos e inspiradores (e, por que não dizer, por vezes, tiranos). Outros, líderes mais discretos, mas com um imenso talento para recrutar pessoas.
Costumo dizer que produtos são copiáveis e líderes são imitáveis. Isto é bom. No entanto, nem cópias autenticadas têm selo de originalidade e criatividade. Copiar e se diferenciar é um pouco melhor, mas o original ainda é o “pai” da nova criança. Simples assim. Resumindo, só há uma saída honrosa: ou se reinventa, inova, cria algo disruptivo ou se curva humildemente a quem te inspirou. Com isto, discordo um pouco das frases dos gênios que citei acima. Sendo bem honesto, nem mesmo uma ideia disruptiva é 100% original, se levarmos em consideração que ela é consequência de conhecimentos passados por outras pessoas. Lógico que ter esse tipo de ideia é o melhor cenário para negócios.
Um dos grandes desafios do ser humano é controlar o ego. Pegar uma ideia alheia, transformá-la em algo novo e dizer que a inventou é metade da verdade. Ao negar de onde a tirou, você entra numa questão ética e moral. Ao reconhecer a origem, você enaltece a ideia original e aquilo que você melhorou na mesma.
Para terminar, como minha empresa está no negócio de encantamento ao cliente, sempre digo que quase tudo pode ser copiado. Por exemplo, imagine o melhor e mais bonito hotel do mundo. Pois bem, ele pode ser copiado. Um supermercado, uma loja, um avião, enfim, muitas coisas. O que não pode ser copiado são as pessoas. São elas que farão a diferença ao criar uma experiência singular, única, inimitável e, óbvio, “incopiável”. Em geral, nos negócios, quem copia oferece preços; originais sempre oferecem valor.
As generalizações acima mostram que o melhor caminho ainda é a inovação, é sair do comum. Quando você faz o mesmo que os outros, somente uma coisa pode te salvar: sua equipe, já que ela não pode ser copiada. Se você tiver uma equipe incomparável e ainda por cima tiver produtos e/ou serviços inovadores e extraordinários, então, você está num oceano azul.
P.S. inovação não acontece sem riscos. As empresas têm uma tendência a serem punitivas com erros. Estive no Vale do Silício, algumas vezes, para pesquisar sobre meu livro e entendi porque eles continuam sendo modelos. Entendem que erros, quando aprendidos, geram valor. Cultura de empresa punitiva não produz inovadores. O colaborador, ao saber que pode ser punido, tira o pé do acelerador e mantém tudo no ponto neutro. Essa cultura leva as empresas a serem medíocres. E aí, sua empresa admite erros de seus colaboradores?
Seeds of Dreams Institute